terça-feira, 23 de junho de 2009

Eu como Chocolate e tu comes Broa !!!!

COMER BROA…

Diz um puto espanhol para um puto português:
- Eu como chocolate e tu comes broa…
O puto português conta à mãe o sucedido e a mãe diz para ele dizer o
seguinte: Eu tenho o PS no governo e tu não tens…
No dia a seguir o puto espanhol volta a dizer ao puto português:
- Eu como chocolate e tu comes broa..
E o português respondeu:
- Eu tenho o PS no governo e tu não tens…
O puto espanhol foi para casa e disse à mãe o que o puto português lhe disse
e a mãe disse-lhe:
- Olha diz-lhe que não tens, mas que também vais ter!!!
No outro dia o puto espanhol disse:
- Eu como chocolate e tu comes broa..
Diz o puto português:
- Eu tenho o PS no governo e tu não tens…
Diz o puto espanhol:
- Não tenho mas vou ter…
Diz o puto português:
- Então vais passar a comer broa que te vais foder …

Agora com som...

Chocolate e Broa

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Os factos que nos levam ao 25 de Novembro…

 

Os factos que nos levam ao 25 de Novembro

11 de Março de 1975
Divisões profundas entre oficiais do MFA. A ala spinolista é levada a tentar um golpe de estado. Insurreição na Base Aérea de Tancos e ataque aéreo ao Quartel do RAL1. Fuga para Espanha do General Spínola e outros oficiais. Reforço da capacidade de intervenção do COPCON chefiado por Otelo Saraiva de Carvalho.

12 de Março de 1975
São extintos a Junta de Salvação Nacional e o Conselho de Estado e em sua substituição é criado o Conselho de Revolução. O Governo dá início à execução de um grande plano de nacionalizações (Banca, Seguros, Transportes etc...).

26 de Março de 1975
Tomada de Posse do IV Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.

11 de Abril de 1975
Plantaforma de acordo MFA/Partidos assinada por CDS, FSP, MDP, PCP, PPD, PS. O acordo visava o reconhecimento, por parte dos partidos, da necessidade de se manter a influência do MFA na vida política do país por um período de transição de três a cinco anos o qual terminaria por intermédio de uma revisão constitucional.

25 de Abril de 1975
Eleições para a Assembleia Constituinte com uma taxa de participação de 91,7%. Resultados dos Partidos com representação parlamentar: PS 37,9%; PPD 26,4%; PCP 12,5%; CDS 7,6%; MDP 4,1%; UDP 0,7%.

19 de Maio de 1975
Início do chamado Caso República . Raul Rêgo é afastado da direcção do jornal pelos trabalhadores, acusado de ter tornado o República no órgão oficioso do Partido Socialista.

25 de Maio de 1975
Ocupação pelos trabalhadores das instalações da Rádio Renascença, propriedade do Episcopado.

6 de Junho de 1975
Em Ponta Delgada realiza-se a primeira manifestação pública da Frente de Libertação dos Açores (FLA). Este movimento sem grande expressão e peso político reivindicava a autodeterminação dos Açores.

25 de Junho de 1975
Independência de Moçambique.

Julho de 1975
Reagindo ao curso dos acontecimentos e à situação criada no jornal República o Partido Socialista desencadeia manifestações de massas - a maior das quais foi a da Fonte Luminosa, abandonando o Governo em 16 de Julho. O Partido Popular Democrático segue-lhe o exemplo. Iniciam-se as diligências para a formação de novo Governo.

5 de Julho de 1975
Independência de Cabo-Verde.

8 de Julho de 1975
MFA divulga o Documento "Aliança POVO/MFA. Para a construção da sociedade socialista em Portugal."

12 de Julho de 1975
Independência de S. Tomé e Príncipe.

13 de Julho de 1975
Assalto à sede do PCP em Rio Maior. Têm aqui início uma série de acções violentas contra as sedes de partidos e organizações políticas de esquerda, registadas por todo o país mas com maior intensidade no Norte e Centro. Esta onda de violência conotada com as forças conservadoras ficou conhecida por Verão Quente.

27 de Julho de 1975
Fuga de 88 agentes da ex-PIDE/DGS da prisão de Alcoentre.

30 de Julho de 1975
É criado no Conselho da Revolução o Triunvirato que passa a orientá-lo. Constituem-no Vasco Gonçalves, Costa Gomes e Otelo.

7 de Agosto de 1975
É divulgado o Documento Melo Antunes, apoiado pelo Grupo dos Nove, um grupo de militares que representava a facção moderada do MFA, e que se opõem às teses políticas do Documento Guia Povo/MFA apresentado em 8 de Julho.

8 de Agosto de 1975
Tomada de posse do V Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.

10 de Agosto de 1975
Melo Antunes e apoiantes são afastados do Conselho da Revolução.

12 de Agosto de 1975
Aparecimento do "Documento do COPCON", em contraposição ao "Documento dos Nove", e reforçando a ideia de ser atribuído um papel político relevante às Assembleias Populares (democracia de base).

30 de Agosto de 1975
Vasco Gonçalves é demitido do cargo de Primeiro Ministro. Iniciam-se as negociações para a formação do VI Governo Provisório, PS/PPD/PC.

10 de Setembro de 1975
Desvio de 1000 espingardas automáticas G3 do DGM 6 em Beirolas.

11 de Setembro de 1975
Manifestação dos SUV no Porto, numa tentativa de criar no seio das Forças Armadas uma zona de influência adepta do Poder Popular de Base como advogavam alguns partidos da chamada esquerda revolucionária.

19 de Setembro de 1975
Tomada de posse do VI Governo Provisório, chefiado por Pinheiro de Azevedo.

21 e 22 de Setembro de 1975
Agudiza-se a luta política nas ruas: manifestação dos Deficientes das Forças Armadas com ocupação de portagens de acesso a Lisboa e tentativa de sequestro do Governo. Prosseguem as nacionalizações: SETENAVE e Estaleiros de Viana do Castelo.

25 de Setembro de 1975
Nova manifestação dos SUV em Lisboa. Na intenção de retirar poderes ao COPCON o Governo cria o AMI - Agrupamento Militar de Intervenção.

26 de Setembro de 1975
O Governo decide retirar ao COPCON "os poderes de intervenção para restabelecimento da ordem pública".

27 de Setembro de 1975
Manifestantes de partidos de esquerda assaltam e destroem as instalações da Embaixada de Espanha como medida de protesto contra a execução pelo garrote de cinco nacionalistas bascos, decidida pelo governo ditatorial do Generalíssimo Franco.

15 de Outubro de 1975
O Governo manda selar as instalações da Rádio Renascença, ocupada desde Maio pelos trabalhadores. Mas a ocupação mantém-se.

7 de Novembro de 1975
Por ordem do Governo, o recém criado AMI, faz explodir os emissores da Rádio Renascença.
Confrontos violentos na região de Rio Maior entre representantes das UCP's e Cooperativas Agrícolas da Zona de Intervenção da Reforma Agrária (ligadas ao sector do trabalhadores rurais) e representantes da CAP - Confederação de Agricultores Portugueses, instituição ligada aos interesses dos proprietários agrícolas.

11 de Novembro de 1975
Independência de Angola.

12 de Novembro de 1975
Manifestação de trabalhadores da construção civil cerca o Palácio de S.Bento sequestrando os deputados.

15 de Novembro de 1975
Juramento de bandeira no RALIS - os soldados quebram as normas militares que regulamentam os juramentos de bandeira e fazem-no de punho fechado.

20 de Novembro de 1975
O Conselho da Revolução decide substituir Otelo Saraiva de Carvalho por Vasco Lourenço no comando da Região Militar de Lisboa.
O Governo anuncia a suspensão das suas actividades alegando "falta de condições de segurança para exercício do governo do país".

Manhã de 25 de Novembro de 1975
Na sequência de uma decisão do General Morais da Silva, CEMFA, que dias antes tinha mandado passar à disponibilidade cerca de 1000 camaradas de armas de Tancos, paraquedistas da Base Escola de Tancos ocupam o Comando da Região Aérea de Monsanto e seis bases aéreas. Detêm o general Pinho Freire e exigem a demissão de Morais da Silva. Este acto é considerado pelos militares ligados ao Grupo dos Nove como o indício de que poderia estar em preparação um golpe de estado vindo de sectores mais radicais, da esquerda. Esses militares apoiados pelos partidos políticos moderados PS e PPD, depois do Presidente da República, General Francisco da Costa Gomes ter obtido por parte do PCP a confirmação de que não convocaria os seus militantes e apoiantes para qualquer acção de rua, decidem então intervir militarmente para controlar inequivocamente o destino político do país. Assim:

Tarde de 25 de Novembro de 1975
Elementos do Regimento de Comandos da Amadora cercam o Comando da Região Aérea de Monsanto.

Noite de 25 de Novembro de 1975
O Presidente da República decreta o Estado de Sítio na Região de Lisboa. Militares afectos ao governo, da linha do Grupo dos Nove, controlam a situação.
Prisão dos militares revoltosos que tinham ocupado a Base de Monsanto.

26 de Novembro de 1975
Comandos da Amadora atacam o Regimento da Polícia Militar, unidade militar tida como próxima das forças políticas de esquerda revolucionária. Após a rendição da PM, há vítimas mortais de ambos os lados.
Prisões dos militares revoltosos..

27 de Novembro de 1975
Os Generais Carlos Fabião e Otelo Saraiva de Carvalho são destituídos, respectivamente, dos cargos de Chefe de Estado Maior do Exército e de Comandante do COPCON.
O General António Ramalho Eanes é o novo Chefe de Estado Maior do Exército.
Por decisão do Conselho de Ministros a Rádio Renascença é devolvida à Igreja Católica.

28 de Novembro de 1975
O VI Governo Provisório retoma funções. O Conselho de Ministros promete o direito de reserva aos donos de terras expropriadas.

7 de Dezembro de 1975
A Indonésia invade e ocupa o território de Timor.

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O 25 de Novembro na imprensa

Manuel Beça Múrias in “JORNAL” de 28 de Novembro de 1975

O COMBATE NA CALÇADA DA AJUDA

(...) em dado momento, soldados de camuflado, isoladamente ou em pequenos grupos, foram vistos a descer a Calçada, em direcção ao jardim.

Na mão, em vez da “G-3”, traziam sacos de viagem, com a sua roupa. Com licença aqui, com licença ali, atravessaram o cordão da G.N.R. e de populares, que imediatamente dispersaram em pequenos grupos, cada magote em torno de um ou dois militares da P.M..

Palavra a palavra, da boca dos soldados, de expressão entre espantada e triste, saíam os pormenores da primeira confrontação séria entre militares que, ainda à 19 meses estavam do mesmo lado para derrubar o fascismo...

Segundo um deles, a coluna dos Comandos, ao entrar na Calçada, foi alvejada por tiros disparados por instruendos da P.M., instalados do lado do antigo Regimento da Cavalaria 7, a que os soldados de Jaime Neves ripostaram, avançando com decisão.

“Pareciam macacos”, comentava um polícia militar. ”Surgiram de todos os lados. Eu estava a disparar de uma das janelas do segundo andar do Regimento, quando reparei que, por cima, no terceiro piso, já se encontravam Comandos”, acrescentou ainda perplexo.

“Quando tudo acabou, falámos com eles. Disseram-nos que tinham vindo para conversações e não para matar ninguém. Havia rapazes dos Comandos que tinham irmãos do nosso lado”, lembrou outro, quando se desembaraçava dos curiosos e corria para o autocarro, não sem que antes perguntasse: “E para que serviu isto tudo?”, ”Fomos traídos”. – garantiu um terceiro. “Houve uma traição no meio disto tudo. Os fuzileiros prometeram que nos vinham ajudar, e nada. O RALIS também prometeu, mas não apareceu”.

A participação de civis armados

Um dos soldados da P.M. garantiu que, efectivamente o Regimento distribuíra armas a civis durante a noite, mas nunca mais os tinha visto... Mais tarde, diante das câmaras da R.T.P., o capitão Sousa e Castro, do Conselho da Revolução, diria que assistindo ao combate de uma janela do Palácio de Belém, vira claramente civis armados que disparavam contra os Comandos. De acordo com as informações oficiais, teriam sido estas milícias quem infringiu baixas na P.M., mas os militares deste Regimento afirmaram, como se disse, estar convencidos de que o Furriel Miliciano Comando, Joaquim dos Santos Pires fôra atingido por disparos dos próprios recrutas da P.M..

O capitão Sousa e Castro louvou, na televisão, a disciplina demonstrada pelos homens da Amadora, que debaixo de fogo, da P.M. e de civis, obedeceram à ordem dos oficiais e calaram as suas armas.

Segundo o relato que nos foi feito, por um militar Comando, da coluna vinda da Amadora, destacou-se uma “Chaimite” que encostou à porta de Lanceiros, tombando-a. Confiantes, em virtude da comunicação que dava o Comando da P.M. como tendo manifestado obediência ao Presidente da República, os Comandos desmontaram sendo alvejados com fogo vindo do lado da Cavalaria 7.

Teria sido detido posteriormente um indivíduo à paisana, armado de “G-3”.

Versão oficial e identidade dos mortos

Os comunicados oficiais do Estado Maior General das Forças Armadas forneciam, entretanto, a seguinte versão dos factos:

1. “Na sequência da dramática crise militar gerada pelas forças pára-quedistas revolucionárias registou-se um incidente originado pelas forças do Regimento de Polícia Militar com o Regimento de Comandos.

No início da manhã de hoje, 26 de Novembro, o Regimento da Polícia Militar comunicou que se punha à disposição do senhor Presidente da República.

2. Imediatamente foi ordenada a apresentação no Palácio de Belém do comandante e dois oficiais desta unidade.

Porém esta ordem não foi acatada, o que levou à marcação de um prazo que expirou às 8 horas, o qual não foi respeitado apesar dos frequentes contactos telefónicos com o comandante do R.P.M.

Perante este facto foi mandado avançar, como medida persuasiva uma força do Regimento de Comandos que veio a ser recebida a tiro pela P.M..

3. A irresponsabilidade do comando, já destruído, da P.M. originou um confronto violento cujas consequências ainda se não podem apurar.

4. Simultaneamente à acção da P.M. verificou-se o aparecimento de criminosos provocadores civis armados que efectuaram disparos com as suas armas e são co-responsáveis pelo referido confronto.

Estão as Forças Armadas atentas a futuras ocorrências deste tipo que serão implacavelmente combatidas.

5. A situação encontra-se controlada”.

E posteriormente:

“No incidente originado pelas forças do Regimento de Polícia Militar com o Regimento de Comandos, verificou-se a morte do Tenente Comando José Eduardo Oliveira Coimbra, do 2º Furriel Miliciano Comando Joaquim dos Santos Pires e do Aspirante Miliciano José Albertino Ascenso Bagagem.

Neste momento, além de lamentar profundamente que portugueses se matem entre si, não pode o Estado Maior General das Forças Armadas deixar de condenar veementemente a acção de grupos de civis armados”.

O Tenente Coimbra contava 24 anos e morava no Bairro do Marino, à Rua Alexandre Herculano, no Porto, cidade onde era conhecido nos meios desportivos, nomeadamente na equipa de basquetebol do B.P.M.. Era filho de um conhecido comerciante da Rua de Santo Ildefonso, na capital do Norte.

O Almirante Pinheiro de Azevedo na televisão

O discurso do Primeiro-Ministro na televisão, breve mas elucidativa, referia que “...uma vez mais, a serenidade das Forças Armadas pode evitar a deflagração de uma generalizada confrontação violenta mas que apesar disso, há que lamentar a perda inútil de três vidas”. O Almirante Pinheiro de Azevedo “curvou-se” perante a dor das famílias e acompanhou “no seu luto a família portuguesa”. Mas o chefe do Governo marcou logo na frase a seguinte distinção:

“Perante a memória dos dois briosos militares que morreram no cumprimento do dever, reverentemente me inclino, num gesto de merecida homenagem”.

Mais adiante, o Primeiro-Ministro diria:”...que ninguém seja condenado sem prévio julgamento, precedido das mais amplas garantias de defesa. Quem defende a liberdade e a democracia, não pode escamotear a justiça”.

PCP orientou esquerda militar

Entrevista publicada a 26 de Novembro de 1995, conduzida por José Manuel Barroso.

Diário de Notícias – O 25 de Novembro foi um conjunto de sublevações militares coincidentes ou uma tentativa articulada para mudar a composição dos órgãos do poder a favor da esquerda militar e do PC?
Raimundo Narciso – O 25 de Novembro foi o momento em que a esquerda revolucionária, no plano militar, respondeu à última «provocação» do campo oposto com uma parada demasiado alta e que com espanto e desespero, verificou a seguir não estar em situação de sustentar.
Essa parada demasiado alta foi a ocupação das bases e do comando da Força Aérea, por parte dos pára-quedistas de Tancos, na madrugada de 25 de Novembro. Com essa medida os pára-quedistas respondiam à provocação do chefe do Eslado-Maior da Força Aérea, Morais e Silva, que actuando de acordo como Grupo dos Nove e o de militares mais à direita, seus aliados, ordenara a sua extinção.
Com esta medida, os «páras», a esquerda militar (EM) e a esquerda revolucionária em geral, não pretendiam desencadear a «mãe de todas as batalhas». Pretendiam «apenas» ganhar a importante batalha da substituição de Morais e Silva, no EMFA e no Conselho da Revolução, e se possível, na passada, conseguir a inversão do processo de constante perda de posições nos órgãos do poder político-militar, que ocorria desde a Assembleia do MFA de Tancos, em 6 de Setembro. E não era pouco. Para isso julgavam que podiam contar com Otelo e que conseguiriam, para o efeito, ganhar o Presidente da República, Costa Gomes, para o seu lado.
DN – E a força dos «páras» era suficiente?
RN - Para sustentar esta subida da parada não bastava que o Ralis e a EPAM accionassem, como o fizeram, o seu dispositivo de defesa (ou ataque?) era necessário que os fuzileiros com a sua formidável força de 12 companhias operacionais entrassem na dança. Não entraram, como se sabe.
As forças militares que se opunham ao projecto do PCP e ao prosseguimento do processo revolucionário, lideradas pelo sector moderado do MFA, os "Nove", conseguiram, neste contexto, a adesão do Presidente Costa Gomes para o seu plano e assim dispor do importante factor legalidade traduzido no controlo da cadeia de comando militar oficial.
Reunidas estas condições, os "Nove", onde pontificavam Vasco Lourenço e Melo Antunes mas também figurava Canto e Castro, juntamente com os seus aliados, desencadearam a ofensiva para a qual há um certo tempo se vinham preparando. Este agrupamento de forças militares, que não respondia só, nem principalmente, à linha de comando oficial que tinha Vasco Lourenço logo abaixo do PR, desferiu um golpe decisivo que pôs fim à revolução e minou de caminho o poder do próprio sector moderado do MFA, os "Nove".
DN - Mas os «páras» saíram às ordens do PCP, da esquerda militar, ou por sua própria iniciativa?
RN — Sobre o assunto dos pára-quedistas podia-lhe dar uma excelente «caixa» por que, acompanhei ou participei em todos os acontecimentos decisivos da revolução, incluindo este — acontecimentos que, por vezes, mudavam a situação hora a hora ou minuto a minuto. Mas mesmo se vinte anos depois, é tempo para disponibilizar todos os elementos aos historiadores não quero desvendar alguns segredos que não são só meus.
DN – A Direcção do PCP e os militares seus aliados acharam que era necessário avançar, para uma acção de força, nesse momento, para evitar que fosse submergida mais tarde por um golpe de direita?
RN — Acharam que era necessário fazer qualquer coisa para inverter a crescente perda de posições políticas e militares institucionais. Tinham perdido o Governo, tinham perdido quase toda a força de que dispunham no Conselho da Revolução. Até o incerto mas importante Otelo, comandante do Copcon, tinha sido neutralizado e substituído por Vasco Lourenço no comando da Região Militar de Lisboa, dois dias antes do 25 de Novembro, pelas forças adversárias. Estou convencido que a saída dos pára-quedistas não foi uma acção que fizesse parte de um plano de operações político-militar amadurecido. Tal como o campo contrário, a ala do MFA próxima do PCP estava a organizar-se para uma eventual futura confrontação militar mas não tinha ainda um comando, sistema de forças e dispositivo consistentes.
DN— A influência do PCP nos quartéis da área de Lisboa era suficiente para determinar o avanço ou recuo de um processo militar como o do 25 de Novembro? Passava-se o mesmo com os pára-quedistas de Tancos?
RN — É uma pergunta a dirigir ao PCP. Como observador posso concluir que essa influência em 25 de Novembro, foi a que se viu. Tanto em Lisboa como em Tancos. Em minha opinião, a influência do PCP, medida pelo número de militares do quadro permanente que lhe eram afectos ou próximos era muito pequena no 25 de Abril mas cresceu sempre até, ao 25 de Novembro.
Já entre, os milicianos, o PCP tinha, em 25 de Abril de 1974, uma grande influência. O papel dos oficiais milicianos na preparação e eclosão do 25 de Abril e em toda a revolução, cuja história está por fazer, foi importante. Pela, sua influência ideológica junto dos oficiais do QP e como seus auxiliares no comando de tropas. Os oficiais milicianos também tiveram um importante papel na derrota do 11 de Março e, posteriormente, nas assembleias e outras estruturas do MFA.

«Uma derrota relativa»

DN— Em termos políticos, o saldo do 25 de Novembro foi uma vitória ou uma derrota do PC e da esquerda militar?
RN – O 25 de Novembro foi uma derrota para o PCP e para a esquerda militar. Em todo o caso, foi apenas uma derrota relativa — devido ao papel moderador de Costa Gomes, Melo Antunes, Vasco Lourenço e, nalguma medida, de Ramalho Eanes, também.
Foi uma derrota porque o 25 de Novembro impediu o prosseguimento da revolução no sentido do projecto de sociedade do PCP e que, à parte as particularidades nacionais, era na essência, igual ao da sociedade comunista de Leste. Derrota por que afastou o PCP do Governo e de um modo geral dos órgãos do poder de Estado, porque impediu a estabilização de conquistas da revolução já adquiridas, tais como a Reforma Agrária, as nacionalizações, etc.
Para o PCP, o 25 de Novembro também pode ser considerado uma vitória no sentido em que uma pessoa que parte uma perna tem imensa sorte por não ter partido as duas.
Assim, o 25 de Novembro representa uma vitória parcial porque o PCP não foi ilegalizado e pôde viver em democracia, numa democracia que, como se sabe, o comunismo nunca facultou aos seus adversários.
DN — No Verão de 75, tendo a esquerda revolucionária sofrido grandes derrotas, porque avança o PCP para a agudização das lutas sociais e militares?
RN — O PCP tentou com a agudização de todo o tipo de lutas, fomentando umas, dando cobertura ou não se demarcando de outras, compensar o seu crescente isolamento político, social e militar e conduzir a revolução por aí fora. Caso República, cerco da Assembleia da República, manifestação dos SUV (Soldados Unidos Venceremos!).
É necessário, para compreender a situação, não esquecer a rede bombista e a vaga de assaltos às sedes do PCP, do MDP de sindicatos e outras organizações de esquerda, no Verão quente desencadeada pela extrema-direita. A 13 de Julho é assaltada e destruída a sede do PCP e da FSP em Rio Maior, a 16 assaltada a sede da Batalha, a 17 a do Cadaval, a 18 a da Lourinhã e assim até ao 25 de Novembro e depois.
DN — Tendo a revolução entrado em derrapagem e o PCP em perda de posições não deveria antes moderar a sua acção e aproximar-se do PS e do sector moderado do MFA?
RN — Uma particularidade do comunismo português na revolução do 25 de Abril, foi o PCP, muito cedo, pensar que podia dispensar o PS, na sua política de alianças. Para tanto utilizou a fórmula Aliança Povo-MFA em que o povo estaria suficientemente representado pelo PCP e o MDP ou, no Verão quente, em estado de desespero, também pelas outras organizações da FUR. Pareceu ao PCP que a aliança com a base social representada pelo PS poderia ser assegurada através do sector moderado do MFA complementada pela Intersindical.
O PCP reconhece, no plano teórico, no Verão de 75, a urgente necessidade de lutar pela unidade do MFA e de evitar a radicalização da luta que isole o PCP. É esse o resultado do debate havido na reunião do Comité Central em Alhandra, a 10 de Agosto, um dia depois da publicação do Documento dos Nove. Também o discurso de Vasco Gonçalves, em Almada, a l8 de Agosto é apreciado de modo negativo. O PCP esperava desta intervenção uma tentativa de aproximação aos "Nove" e o que saiu foi radicalização.
Curiosamente a par desta análise teórica a intervenção prática do PCP não vai no sentido de travar a radicalização das lutas, umas por si organizadas, outras pelos sectores da esquerda mais radical, outras espontâneas.

A «unidade de pensamento»

DN — Houve no PCP uma luta entre moderados e radicais face ao ritmo do processo revolucionário? Muitos militares, então próximos do partido, e alguns ex-militantes dizem ter ela existido.
RN — Que eu conheça não. Havia — e provavelmente continua a haver — dirigentes mais radicais e outros mais moderados. Isso acontece em todas as formações partidárias, mesmo que não seja reconhecido. Mas a liderança incontestável de Álvaro Cunhal não dava abertura para um debate que pudesse pôr em causa a sua orientação – e em risco a tão desejada «unidade de pensamento».

DN — Que representa a FUR no contexto do Verão quente de 1975?
RN — A necessidade de ocultar o crescente isolamento político do PCP resultante da crescente radicalização da sua acção política.
DN — O comportamento do PCP teve por objectivo um regime de matriz soviética ou democrática do tipo ocidental?
RN — Logo a seguir ao 25 de Abril e até ao auto-afastamento de Spínola, a preocupação fundamental do PCP era a consolidação do regime democrático do tipo ocidental. Depois do 11 de Março o PCP orientou a sua luta para as conhecidas «grandes conquistas da revolução».
No entanto, em momento nenhum, o PCP esquecia que o objectivo último da luta era o socialismo. Isso mesmo fazia questão de constantemente lembrar, internamente, aos militantes. Havia a fase da revolução democrática e nacional e a fase da revolução socialista. Mas a passagem de uma a outra fase não era tanto um questão de meses ou anos mas de relação de forças.
DN — Até que ponto PCP acompanha as movimentações da área militar?
RN — Não só acompanha como intervém, no sentido de influenciar os acontecimentos militares. Os próprios acontecimentos militares do 25 de Novembro não aparecem como um acto isolado, mas de sucessivas acções da esquerda militar, dos “Nove” e da direita — no sentido de cada um ganhar posições, para o seu lado. E havia o claro entendimento de um provável choque militar.
DN – Pode dizer-se haver uma clara aliança entre a esquerda militar e o PCP?
RN – Pode dizer-se, com clareza, que a esquerda militar foi-se constituindo como a expressão da influência militar do PCP no MFA.
DN — Havia, portanto um relacionamento constante, entre a direcção do PCP e a da esquerda militar?
RN – A esquerda militar era o sector do MFA que estava mais próximo do projecto político do PCP e o que melhor podia defender as suas posições no plano político-militar.
DN – Otelo foi uma cartada mal jogada, no 25 de Novembro?
RN—Foi uma cartada que não foi possível controlar, apesar de haver esperanças e esforços no sentido de o aliar à esquerda militar. Como se sabe, houve um período em que dirigentes do PCP se deslocaram com alguma regularidade ao Copcon para troca de opiniões políticas — e que não tinham outro objectivo que não fosse poder aproximar Otelo da posição do PCP, com vista a uma unidade entre o sector do Copcon e a esquerda militar.
DN — Quando foi compreendido por parte do PCP, que essa unidade não era possível?
RN — O 25 de Novembro comprovou, definitivamente, que o PCP não podia contar com Otelo Saraiva de Carvalho.
DN – O PCP tinha uma significativa influência, entre os graduados do corpo de pára-quedistas de Tancos?
RN – Tinha, sobretudo, uma grande influência entre os sargentos «páras». Foram públicas várias sessões de esclarecimento para sargentos da Força Aérea — que incluía, em especial, sargentos pára-quedistas – num cinema da região.
DN — Seria normal que militantes do PCP, sobretudo sendo militares, tomassem decisões de grande importância, no campo da acção, sem aviso ou consulta ao partido?
RN — Não era normal — mas, por vezes, sucedia.
DN—E no caso da saída dos «páras» de Tancos?
RN — O partido teve informação da movimentação dos «páras», ante destes terem saído.
DN — O «trabalho militar» do PCP constituía uma área de actuação privilegiada?
RN — A actividade e a atenção do PCP às Forças Armadas é uma orientação muito antiga. Seria de uma grande irresponsabilidade e negaria a natureza revolucionária do PCP se, numa revolução como a do 25 de Abril, não prestasse a maior das atenções aos militares.
DN— Quando, logo a seguir ao 25 de Abril, António Spínola não consegue um apoio claro dos militares do MFA, no final do plenário da Manutenção Militar (que precedeu a crise Palma Carlos) que análise fez o PCP?
RN — Considerou ser urgente a coordenadora do MFA se auto-institucionalizar e traduzir assim no plano institucional, o seu papel de verdadeiro autor do 25 de Abril.
Sabia-se que o «imparável» movimento popular antifascista, liderado pelo PCP não deixaria de influir muito o MFA, ou parte dele, no sentido da revolução.

O PCP e as eleições

DN — Houve debate Interno e divergências, no PC, sobre a realização de eleições para a Constituinte?
RN — A realização de eleições livres era um dos principais pontos do programa do PCP na clandestinidade — estávamos no fascismo, não no comunismo! Após o 25 de Abril, as eleições para a Constituinte era um objectivo a conquistar tanto mais importante quanto Spínola preferia um referendo que lhe conferisse poderes mais ou menos ditatoriais. Num encontro, em que participei, de uma delegação do PCP com elementos do MFA, suponho que em 1974, foi informalmente colocada a questão. Vasco Gonçalves que estava presente, respondeu que a data era um compromisso inalienável do MFA. Mais tarde, e em especial após o 11 de Março, surgiram dúvidas sobre a bondade de tal acto, a tão curto prazo. Mas foi assunto discutido à puridade.
No PCP, os resultados eleitorais das primeiras eleições livres, em 25 de Abril de 1975, eram aguardados ora com receio, porque comunismo e eleições eram coisas que nunca ligaram bem, ora com esperança. Neste caso, assente nos comícios sempre maiores do que os de qualquer outro partido, nas sondagens obtidas pelos camaradas em conversas de autocarro — ou, até, porque a gratidão do povo, de cuja representação julgávamos ter monopólio, não nos faltaria nesse momento.
As primeiras eleições, ao darem 12,5 por cento dos votos ao PCP e quase 38 por cento ao PS, revelaram um quadro de opções dos Portugueses completamente diferente do que era dado pelas mobilizações populares e foram um factor decisivo para a derrota a prazo do projecto do PCP.

A "rapaziada vermelha" corre, alegremente, para o Leste

A história de um preso politico…

 

http://abrilprisoesmil.googlepages.com/manuelmariam%C3%BArias

Zita Seabra confirma!


«Só há PREC [Processo Revolucionário em Curso] em Portugal porque o PCP decidiu passar à fase seguinte pela via armada. Cunhal segue rigorosamente o que Lenine fez na Rússia: a revolução dos mencheviques, e depois a revolução bolchevique, para chegar pela via armada ao socialismo.»
A antiga membro do Comité Central do PCP em entrevista à revista Tabu, do semanário SOL, de 21/07/07, confirma quem andava nos bastidores da revolução de 74, que o aventureirismo e ambições pessoais de alguns (até o Dr Soares em estilo parisien naif quis subir para o carro de combate onde já estava o Dr.Cunhal, mas obrigaram-no a descer…)limitaram a percepção do que nos esperava:
«O nosso objectivo era que os bolcheviques ganhassem, não era consolidar a democracia. Prendemos os capitalistas, avançámos para a Reforma Agrária, ocupámos as terras, demos a palavra de ordem do controlo operário e pusemos o país a ferro e fogo

E lembra (aos mais distraídos): «Ele [Álvaro Cunhal] viveu na União Soviética e depois preferiu ir viver para Paris. O argumento, na altura, é que Paris ficava mais perto de Portugal. (…) não é uma figura providencial. Obedecia a Moscovo nos momentos chave e, nos outros, procurava agradar a Moscovo. Não era mais do que isso.»
Afinal não era "o povo quem mais ordena" (palavra de ordem muito em voga na época), como queriam fazer crer, mas sim “Moscovo é quem mais ordena”.
COPCON tropa da choque da UEC
E, revela: «Tinha combinado com o COPCON [Comando Operacional do Continente] que a UEC [União dos Estudantes Comunistas] iria atacar um plenário a realizar-se no Técnico. O COPCON viria em nosso auxílio» e mais: «O MDP estava em vias de extinção e fui encarregada de criar Os Verdes.» e : «Estive [1989] num hospital [na cidade de Lenine] absolutamente desgraçado - nem os hospitais portugueses dos anos 60 eram assim.»
Sobre o partido e o comunismo afirma:
- «A tendência de quem sai do PCP é dizer que os ideais eram bons.»
- «Somos contra a pena de morte num país onde o Partido Comunista não é poder, mas, quando é, temos inimigos de classe e a questão coloca-se noutros moldes e noutros termos.»
- «…há um lado que eu gostaria de salientar, porque é muito típico da ideologia comunista: o passar de carrasco a vítima.»
- «Che Guevara participou directa e pessoalmente nos fuzilamentos em Cuba.»
- «Não pode haver homem novo, sobretudo se criado nos moldes e nos termos em que a ideologia

comunista pretende criá-lo. (…) A questão está, depois, no que se faz para pôr em prática essas ideias. E em todo o lado o resultado foi o mesmo.»
- «Veiga de Oliveira (…) fez uma declaração que acho notável: “O comunismo foi o maior embuste do século XX”.»

“O comunismo foi o maior embuste do século XX”.»
Veiga de Oliveira

As atrocidades cometidas no pós-25 de Abril

 

 

No relatório elaborado em 8 de Novembro de 1976, a Comissão de Averiguação de Violências sobre Presos Sujeitos às Autoridades Militares, reconhece-se que centenas de portugueses foram sujeitos a prisões arbitrárias, viam-se privados de garantias judiciárias, sofreram torturas físicas e morais e tornaram-se ainda vítimas de outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. A comissão, nomeada por Ramalho Eanes, é presidida pelo brigadeiro Henrique Calado, tinha, entre outros, a presença do juiz António Gomes Lourenço Martins e dos advogados Ângelo Vidal de Almeida Ribeiro e Francisco de Sousa Tavares. Pronuncia-se fundamentalmente sobre os factos ocorridos entre 11 de Março e 25 de Novembro de 1975, reconhecendo que as prisões, algumas vezes com mandatos de captura assinados em branco resultaram de denúncias de organizações partidárias e sindicais, de gabinetes ministeriais e do SDCI. As torturas foram praticadas no RALIS e no Regimento de Polícia Militar.

Conclusões Finais
do «Relatório das Sevícias» da pág. 138:
23. Houve muitos casos de maus tratos físicos exercidos
sobre presos, que se traduziram em espancamentos,
por vezes praticados por vários agressores actuando
simultaneamente;
24. Foram exercidas sevícias sistemáticas sobre presos, com o fim de os humilhar e lhes infligir castigos corporais, traduzidos em agressões, rastejamento no solo, corridas forçadas, banhos frios com mangueira e imposição de beijarem as insígnias duma unidade militar, incrustadas no pavimento;
25. Houve casos de tortura moral, traduzidos em insultos, manobras de intimidação e ameaças, inclusive com armas de fogo;
26. Tomou-se conhecimento de casos de coacção psicológica, como ameaça de prisão de familiares, e de publicação de arranjos fotográficos inculcando a prática de pretensos actos delituosos pelos detidos;
27. Elementos civis, por vezes armados e pertencentes a organizações partidárias (PCP e UDP), prenderam ou colaboraram na prisão de numerosas pessoas;
28. Muitas prisões foram anunciadas, em termos vexatórios: pela rádio, televisão, imprensa e, até, jornais de parede elaborados por organizações partidárias;

http://maltez.info/cosmopolis/anode1975/portugal75.htm

Processo Revolucionário em Curso

 

Numa perspectiva mais simples e não-ideológica, o PREC constituiu a reacção da esquerda revolucionária aos resultados das eleições de 25 de Abril de 1975 para a Assembleia Constituinte que deram uns magros 12.46% ao PCP e resultados residuais aos demais partidos de esquerda revolucionária, ao passo que o PS obteve 37.87% dos votos expressos e o PPD 26.39%. Face à evidente ausência de apoio popular aos projectos revolucionários, nada mais restou aos militantes do que tentar realizar os seus intentos através do uso da força e da intimidação: ocupações de empresas e de edifícios, sequestros, controles de estrada, ameaças bombistas, tentativas de controlo de ramos das forças armadas, controlo de jornais por meio de "saneamentos" (ou despedimentos forçados, prática em que se ilustrou José Saramago), sequestro dos deputados na assembleia nacional e tentativa de captura do aparelho Estado através da infiltração e do recrutamento de militantes do PCP.

O desfecho do 25 de Novembro de 1975 foi 'resolvido' em directo na televisão

O actual figurino político português ficou definido com o 25 de Novembro de 1975. Ano e meio após o 25 de Abril, que derrubou o regime fascista, novo confronto militar derrotava as facções ideológico-militares que preconizavam o poder popular e fazia vigorar os princípios da democracia representativa. Numa leitura simplista, as teses da extrema-esquerda (e, também, do PCP) não resistiam ao sistema defendido por PS, PSD e CDS.

No campo militar, as forças lideradas por Vasco Lourenço, que estava no Palácio de Belém com o então Presidente da República, Costa Gomes, e por Ramalho Eanes, que chefiava as operações no Regimento de Comandos da Amadora, batiam as unidades militares que responderiam, entre outros, às ordens de Otelo ou de oficiais comunistas - sobretudo porque tinham um plano e uma cadeia de comando, já que, à partida, o potencial bélico da chamada esquerda militar era superior.

O episódio simbólico da mudança na correlação de forças, nesse período que durou de 24 a 28 de Novembro, é quase anedótico. No dia 25, o (então) capitão Duran Clemente - segundo-comandante da Escola Prática de Administração Militar, que tinha ocupado a RTP - falava em directo na televisão, explicando as teses da facção mais esquerdista. De súbito, começa a dizer que lhe estão a fazer sinais, pois parece que há problemas técnicos, anunciando que voltará ao ar quando tudo estiver resolvido. Entretanto, a imagem do oficial fardado é substituída pela de Danny Kaye, no filme O Bobo da Corte.

Lapidar…

O dia 25 de Novembro é como o aniversário de um divórcio. Pode ter sido necessário. Pode até ter sido um alívio. Mas ninguém o festeja.

Daniel Oliveira in Arrastão

O 'mistério' do 25 de Novembro de 1975

por

José Manuel Barroso

Jornalista21 Novembro 2006

É sabido: no dia 25 de Novembro de 1975, no final do período revolucionário que se seguiu ao 25 de Abril, Portugal esteve à beira de uma guerra civil. Depois de um período de disputa pelo poder político-militar, que abrange todo o Verão de 1975, as forças democráticas (PS, PSD e CDS, na ala partidária, os moderados do Movimento das Forças Armadas, o MFA, liderados pelos Grupo dos Nove, e a Igreja Católica), que lutavam por uma democracia do tipo europeu, e as forças pró-comunistas (PCP, extrema-esquerda e a Esquerda Militar), que procuravam impor ao País um regime autoritário próximo do dos países comunistas, enfrentaram-se em Lisboa.

Venceram os moderados e o caminho para a democracia foi reaberto. Mas a data, isto é, o "quem é quem" e o "quem faz o quê" nos acontecimentos que levaram os radicais do MFA a marchar com a unidade pára-quedista de Tancos sobre a capital e as principais bases aéreas em seu redor, ainda permanece envolto em "mistério". E nem um simples e linear raciocínio de mediana inteligência desata, 30 anos depois, esse "mistério". O "mistério" resume-se a uma pergunta: é, ou não, o PCP, com o apoio operacional da Esquerda Militar, a organização que avança para o confronto e porquê?

Têm-se colocado dúvidas sobre a coerência (ou a "incoerência") de um plano militar "tão frouxo" como o dos revoltosos de Tancos. E, no plano político, sobre as verdadeiras intenções e acção do PCP nessa data. Em suma, perguntam os que alimentam esse "mistério": como poderia o PCP avançar para uma tentativa de mudança do poder político-militar com tal plano militar tão débil? E que quereria ele fazer, de facto, um golpe militar, tomar o poder? As respostas, mesmo com base em depoimentos que não incluem as "memórias" do PCP, são, para mim, simples.

Era o plano militar de quem comandava o 25 de Novembro frouxo? Não. Qualquer aprendiz de militar verifica que uma acção de ocupação do quartel-general (QG) operacional da Força Aérea e das suas principais bases aéreas operacionais não é um plano qualquer. É um plano inteligente e necessário para fazer de novo bascular a balança do poder para a esquerda pró-comunista. Porquê? Porque, estando a principal força de actuação - o Exército - maioritariamente dominada pelos moderados, só o desequilíbrio dos restantes dois ramos das Forças Armadas - Marinha e Força Aérea - poderiam impor ao Exército um realinhamento político-militar e impedir uma eventual acção deste para repor a ordem no País. Tomar o comando da Força Aérea e as suas principais bases significava, "apenas", subtrair ao Exército o seu principal apoio. E era também uma forma de incitar e libertar a Marinha - nomeadamente os fuzileiros - para uma acção ao lado dos radicais.

Que falhou neste plano militar? Duas coisas. Uma, e muito importante, o alinhamento do então comandante operacional do Copcon (QG operacional do MFA), general Otelo Saraiva de Carvalho, ao lado dos pára-quedistas (isto é: da Esquerda Militar). Otelo, que o PCP mais voluntarista contava como aliado e comandante militar "independente" para o golpe, foi para casa nessa madrugada, deixando os revoltosos sem um comando visível (e daí o ódio, que ainda hoje persiste, do PCP a Otelo). Outra, a acção do presidente da República, general Costa Gomes, que se opõe sinceramente a uma guerra civil e dá ordens de fidelidade hierárquica a unidades e cobertura aos militares moderados.

Que falhou no plano político? Otelo e Costa Gomes, de novo. O general Otelo Saraiva de Carvalho, comandante operacional do MFA no 25 de Abril, fora preparado, depois de Março de 1975, para ser o "grande líder" da revolução. É namorado pelo PCP e por Cuba. Tem encontros a sós com Cunhal e Fidel Castro convida-o repetidamente para visitar a ilha. Otelo acaba por lá ir em Julho. É recebido como um herói, é-lhe incentivado um papel de caudilho. Otelo regressa aparentemente convencido, diz que vai mandar os "contra-revolucionários" para a praça de touros do Campo Pequeno e é portador de uma mensagem de Fidel para Costa Gomes anunciando a intervenção cubana em Angola. Mas, depois, Otelo falha sempre: não apoia o primeiro-ministro comunista Vasco Gonçalves nem os pára-que- distas. Costa Gomes também "falha". Deixa Cuba avançar em Angola, até porque Portugal era frágil aí. Mas não dá possibilidade ao golpe do 25 de Novembro de avançar em Lisboa. Homem da Guerra Fria e estratego inteligente, deixa Angola para as superpotências e Portugal para a NATO. Um mês antes do 25 de Novembro, o líder soviético Leonid Breznev, numa conversa a sós de quatro horas, em Moscovo, explicara-lhe que a União Soviética não combateria os EUA na Península Ibérica. Por isso, a primeira preocupação de Costa Gomes, na manhã do 25 de Novembro, é falar com Cunhal e o seu braço popular (não armado, mas armável), a Intersindical. Cunhal aceita, mas ganha tempo para negociar o futuro, sem grandes perdas para o PCP.

Dir-se-ia não haver depoimentos ou provas suficientes do que afirmo. Mas há. Não se conhece tudo, mas o que se apurou, nestes anos de investigação e de recolha de relatos, é suficiente. Explicarei isso em próximo artigo.